Sorridente, ex-detento vende meias e cuecas usando tornozeleira em MS: 'Não me envergonho, tô trabalhando'
Paulo é conhecido no centro como "O cara da tornozeleira" e diz que não se importa: "Trabalhar com isso não é problema, é o preço para eu estar aqui, do lado de fora".
"Vergonha é errar e não consertar. Eu não tenho vergonha de trabalhar, vendo mercadoria na rua desde os 13 anos". Palavras de Paulo Eduardo Mendes, ex-detento, que há 2 meses vende meias e cuecas no centro de Campo Grande usando uma tornozeleira eletrônica.
Segundo o advogado de defesa, Guilherme Feldens, Paulo foi preso acusado de vender substância ilícita. Ficou no presído de segurança máxima de Campo Grande por 1 ano e meio e, há 2 meses, ganhou o direito de responder em liberdade com restrições. Logo que saiu da prisão, Paulo foi procurar trabalho e encontrou muitas portas fechadas. "Quem quer dar emprego pra ex-detento"?
"Sabia que não seria fácil, então procurei um amigo para comprar cueca e meia, que é baratinho, e revender na rua. Sou ambulante desde adolescente, já vendi rede, chinelo, óculos, mas cueca e meia é bom porque não custa muito, sempre tem alguém precisando e dá pra fazer um dinheirinho no fim do dia", conta.
Na perna com tatuagens da "Turma do Chaves", a tornozeleira chama a atenção de quem passa ouvindo Paulo oferecer os produtos.
O ambulante conta que ficou conhecido como "O cara da tornozeleira" no centro da cidade: "Muita gente passa, fica olhando, outros tiram foto, outros perguntam, é normal. Eu não me envergonho, tô trabalhando", declara.
"Ela machuca um pouco o tornozelo mas isso não é difícil. Difícil mesmo é estar lá dentro, preso numa cela com mais 18 pessoas, sem poder ver o filho, sem sair. Viver com a tornozeleira não é um problema."
Segundo o advogado de Paulo, ele vai ficar com o objeto até a próxima decisão da Justiça, que pode mandá-lo a júri popular. "Ele pode ser condenado ou absolvido, nesse caso, há uma chance dele voltar para a prisão", explica Feldens.
Paulo diz que é otimista: "Tenho fé em Deus que serei absolvido e vou poder cuidar do meu filho, que quase esqueceu de mim no tempo que fiquei preso".
Para o futuro, o ambulante tem planos simples. "Quero só ganhar meu dinheiro aqui, honestamente, e cuidar do meu filho, recuperar o tempo que perdi longe dele. Agora mesmo, assim que eu sair daqui, vou fechar minha banquinha e buscar o moleque para passar o final de semana comigo", finaliza, sorridente.
Por G1/MS